COLABORAÇÃO - As leis não bastam

“Este é tempo de partido, tempo de homens partidos, os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam”, palavras de Carlos Drummond de Andrade. E ele tem razão:  as leis não bastam, é preciso muito mais para se construir uma democracia, um país onde os direitos garantidos pela Constituição sejam respeitados.


Vem sendo propalada no Brasil a idéia de que os políticos são todos iguais.  Será? Essa idéia associada a problemas como o analfabetismo e a falta de conscientização política não contribui para o bom funcionamento da democracia. Como é na linguagem formal que estão escritos os códigos, as leis de um país, manter grande parte da população no analfabetismo é uma das maneiras utilizadas por governantes que querem perpetuar-se no poder sem sofrer ameaças. Trata-se de um grupo que, a cada eleição, costuma dizer-se renovado, mas que a cada nova oportunidade, mostra-se, ele sim, mais igual ainda a si mesmo.


Se são todos iguais, como decidir em quem votar? Aliás, para que votar? Acreditar que os políticos são iguais é, ao mesmo tempo, uma impossibilidade lógica e uma renúncia de direitos.  Impossibilidade lógica porque nunca duas pessoas são iguais.  É uma renúncia de direitos porque o cidadão que assim pensa, mentalmente rasga o título de eleitor. Se é tudo igual, para que votar?


Construir uma democracia supõe saber distinguir diferenças. Começaremos a construir a nossa quando deixarmos de acreditar que é tudo a mesma coisa, quando exercermos verdadeiramente a nossa cidadania, escolhendo melhor os nossos governantes. Aí sim, educação, saúde, moradia e alimentação passarão a ser como está na lei: direito de todos.

Dani Marques